Uma
das postagens que sempre desejei fazer aqui no blog eram resenhas, mais
especificamente resenhas dos livros do Professor Tolkien, não apenas um resumo,
mas passar um pouco da minha impressão pessoal sobre a obra, que significado
particular ela teve pra mim. Resolvi que essa é a melhor hora pra isso, afinal há
exatos 61 anos, em 29 de julho de 1954, era lançada a primeira edição dessa magnífica
saga. Então boas vindas a todos aqueles que me acompanharão nessa épica viagem
pelo universo dos livros de J.R.R. Tolkien.
Gandalf The Grey - John Howe |
Pra
começar essa longa série de resenhas, decidi seguir a ordem em que li os
livros, não que ela seja a correta a ser seguida. No fim dos anos 1990, folheando
uma edição da saudosa revista Dragão Brasil (publicação especializada em RPG), me deparei com uma
matéria que falava sobre “O Senhor dos Anéis”, trazendo um breve resumo da
obra, além de uma pequena biografia do autor e algumas citações sobre “O
Hobbit”. Fiquei me perguntando, como eu nunca tinha ouvido falar daqueles
livros até em então? Depois de algumas visitas as livrarias da minha cidade, acabei
adquirindo os dois primeiros volumes inicialmente e o terceiro pouco tempo
depois. Sempre digo que tive sorte de ter lido “O Senhor dos Anéis” antes do
lançamento dos filmes, tive a oportunidade de imaginar cada personagem, cada
local, já que até então não tinha nenhuma referência visual sobre a saga, nem
mesmo as ilustrações de artistas consagrados como John Howe, Alan Lee, Ted
Nasmith ou os irmãos Hildebrandt, que só vim conhecer tempos depois. A única
imagem pré-concebida que tive foi a de Gandalf, que aparecia na capa do volume
único (que pode ser vista na imagem acima). Mas
vamos falar dos livros, li as edições da Martins Fontes, cujas capas, apresento
a seguir, é interessante lembrar que apesar de ser uma trilogia, nunca foi intenção de Tolkien lançá-lo em três partes, mas como um livro único.
ALERTA: O texto abaixo contém pequenas informações que podem ser consideradas spoilers!
"Três Anéis para os Reis-Elfos sob este céu,
Sete para os Senhores-Anões em seus rochosos corredores,
Nove para os Homens Mortais fadados ao eterno sono,
Um para o Senhor do Escuro em seu escuro trono
Na Terra de Mordor onde as Sombras se deitam.
Um Anel para a todos governar, Um Anel para encontrá-los,
Um Anel para a todos trazer e na escuridão aprisioná-los
Na Terra de Mordor onde as Sombras se deitam."
A
Sociedade do Anel
Confesso
que de início achei o título um pouco estranho, nesse primeiro livro, somos
apresentados aos hobbits – uma criação de Tolkien – e ao Condado, terra dos hobbits,
onde sua maior preocupação é o que comer na refeição seguinte. O acontecimento
que marca o início do livro é a festa de aniversário de 111 anos do hobbit
Bilbo Bolseiro, aos poucos vamos conhecendo os primeiros personagens da
história, além de Bilbo, seu sobrinho Frodo, o mago Gandalf, e os hobbits Sam,
Merry e Pippin. O anel forjado pelo Senhor do Escuro (Sauron) antes em poder de
Bilbo agora é procurado pelos Cavaleiros Negros (Nazgûl), e deve ser destruído antes
que caia em mãos erradas. A princípio estranhei não conseguir identificar um
protagonista na história, principalmente quando a Sociedade é formada em
Valfenda (lar de Elrond). Um grupo bastante diversificado que se une em torno
do mesmo objetivo, porém, alguns trazem motivações pessoais pra isso. Nove
formavam a Sociedade: Passolargo, o guardião do norte; Legolas, um elfo da
Floresta das Trevas; Gimli, um anão; Boromir, filho do regente de Gondor; os
pequenos hobbits, Frodo, Sam, Merry e Pippin, e o mago Gandalf, o cinzento.
The Company Attempts the Pass of Caradhras - Ted Nasmith |
Muitos
criticam Tolkien pelo “excesso de descrições” das paisagens da Terra-Média, acredito
que esse é o grande diferencial da obra, com tantos pormenores é impossível não
visualizar os locais apresentados na narrativa. Elfos, orcs, trolls, goblins, desde
as profundezas escuras das Minas de Moria, ao dourado das copas das árvores da
floresta de Lórien, somos tragados para mundo de fantasia tão palpável, graças
a imersão proporcionada pela narrativa do Professor. Durante a leitura entendi
o porque se considera Tolkien o pai da fantasia moderna e sua obra como
fonte de inspiração direta para a criação do RPG, não havia apenas um
protagonista, o grupo era importante como um todo, cada um desempenhava seu
papel, não havendo ninguém mais ou menos importante. Um misto de sentimentos
permeava a Sociedade, o medo do desconhecido, a rivalidade, a coragem, o
otimismo, a inocência, a dor da perda, cada personagem tinha seus conflitos
interiores, além de precisar lidar com companheiros tão diferentes e situações
que testavam seus limites a todo o tempo. O final do livro acontece num momento
crítico, a Sociedade se desfaz, era algo que particularmente não imaginava que
pudesse acontecer, bem como a morte prematura de alguns personagens, tão
inesperada e impactante capaz de deixar qualquer um com os olhos marejados. O
que podia esperar pra o restante da história? Eu não fazia idéia, era diferente
de tudo que já tinha lido até então.
As
Duas Torres
As
Duas Torres do título fazem alusão às torres de Orthanc, morada do mago Saruman
e Minas Morgul, cidadela governada pelo Rei Bruxo de Angmar, um dos Nazgûl. Com
o fim da Sociedade, Frodo e Sam partem sozinhos pra Mordor, enquanto Aragorn (Passolargo),
Legolas e Gimli vão em busca de Merry e Pippin que foram capturados pelos orcs.
As Duas Torres tem um tom diferente, antes a Sociedade vagava pelos ermos,
evitando qualquer contato no caminho, já que era preciso despistar os espiões
tanto de Sauron, quanto de Saruman, o mago que liderava o Conselho Branco e
havia traído a confiança do bom Gandalf. Por falar em Gandalf ele já não é o
mesmo mago cinzento que conhecíamos, mas um Gandalf renascido. Na antiga e
misteriosa floresta de Fangorn conhecemos o ent Barbávore, que passa a cuidar
dos pequenos Merry e Pippin. Somos apresentados também aos rohirrin, habitantes
de Rohan e senhores dos cavalos. O foco da história passa para Aragorn, Legolas
e Gimli, que acompanhados de Gandalf lutam ao lado de Théoden, rei de Rohan, com
novos personagens e um novo cenário a aventura continua ainda mais empolgante.
Edoras - Alan Lee |
Os
personagens evoluem, amadurecem, não só na transformação radical de Gandalf,
mas a postura de Aragorn, o respeito e amizade entre Legolas e Gimli, vindos de
raças declaradas inimigas. A amizade é algo muito presente em toda obra, forjada
nos momentos mais difíceis, onde são criados laços firmes entre os personagens.
E Frodo e Sam? Enquanto isso o destino do Um Anel depende da força de vontade
de dois pequenos hobbits. Se aproximando cada vez mais das terras inimigas,
agora em companhia de Gollum, o antigo portador do Anel, que teve sua vida
consumida pela maldade presente nele. Passagens memoráveis como a Batalha do
Abismo de Helm, o levante dos Ents contra Isengard, e a ameaça de Laracna
deixam qualquer leitor preso ao livro e ansioso pra continuar com a leitura.
O
Retorno do Rei
Chegamos
ao último livro da saga, e o destino dos personagens é tão incerto quanto o
futuro da Terra-Média. Avançando cada vez mais para o sul chegamos a Gondor, e
a cidade branca de Minas Tirith. É em frente aos seus portões que acontecerá o maior
combate da Saga do Anel, a Batalha dos Campos de Pelennor, alguns morrem,
outros realizam atos heróicos, mas a guerra ainda está longe do fim, Sauron
será derrotado apenas se o Um Anel for destruído. É com certeza o livro mais heróico
dos três, finalmente Aragorn assume a posição de herdeiro de Isildur e é diante
dos portões de Mordor que acontece a última batalha da Guerra do Anel, cabia a Frodo
destruir o Um Anel e assim eliminar a ameaça de Sauron. Aqui vemos o quanto o
mais puro dos corações pode sucumbir ao mal e ser corrompido pelo poder, e como
até aquele que parece ser insignificante pode ter um papel importante a
cumprir. Novamente a amizade é um ponto fundamental na obra, o fiel Sam se mantém
ao lado de Frodo até o fim. A destruição do Um Anel marca o fim de uma aventura
inimaginável, o rei de Gondor está de volta e enfim uma era de paz se aproxima.
Mas o que impressiona tanto quanto o desfecho da Guerra do Anel é a volta dos
hobbits pra casa, quando tudo parecia resolvido algo ameaça o Condado, e são os
pequenos que devem lutar pelo seu lar. Há ainda os apêndices que complementam a
história com valiosas informações. O fim é triste, não pelo destino dos
personagens, mas por que é hora de dar adeus a Terra-Média.
Dawn at Minas Tirith - Ted Nasmith |
Entre
todas os personagens citados e não-citados, há um que certamente se destaca,
aparecendo apenas no primeiro livro, Tom Bombadil é uma figura enigmática, não suscetível
a tentação do Um Anel, ele e sua bela esposa Fruta D’Ouro vivem na Floresta
Velha e ajudam os hobbits no início da jornada. Muito se discute sobre quem era
Tom, a que raça pertencia, infelizmente só nos resta especular.
Tom Bombadil - Hildebrandt |
A
leitura de “O Senhor dos Anéis” é sem dúvida transformadora, é a semente
original pra todas as sagas de fantasia que surgiram posteriormente, nunca um
mundo fictício pareceu tão real, com povos, línguas e cultura tão verossímeis. Além das línguas élficas como o Quenya e o Sindarin, criadas por Tolkien que era filólogo, há ainda a escritas, como os belos Twengar e as Runas dos Anões, isso sem esquecer as belíssimas canções, que certamente merecem destaque.
Se
você ainda não leu não perca tempo, vá à livraria ou biblioteca mais próxima,
peça emprestado a um amigo, mas leia, veja toda maestria criativa do Professor
Tolkien e adentre a um mundo inimaginável, repleto de aventura, onde a amizade
é a força motriz pra alcançar objetivos que parecem impossíveis.
Até a próxima!!!
Oi, Yanker! Adorei sua iniciativa de resenhar as obras do Professor Tolkien e sou um dos que certamente irá acompanhar esta longa jornada pelos livros e pela Terra-Média por aqui! Não me canso de ler e conhecer outras opiniões e visões de um universo que tanto admiro e me fascina.
ResponderExcluirAdoro o Tom Bombadil e a Fruta D'Ouro! Depois de todo o sufoco que os Hobbits passam atravessando a Floresta Velha, encontrar este simpático casal é um belo alento na narrativa, daqueles que quebram a tensão e te permitem respirar aliviado até o próximo desafio da jornada.
Concordo muito com tudo o que você falou sobre a amizade, a importância das menores criaturas no teatro do todo, o caráter transformador da obra, a valoração da natureza e da vida simples e o desfecho final com o retorno ao lar (mas não sem antes mais um desafio à vencer)!
Enfim, adorei sua resenha! Você falou com muita propriedade e paixão e me fez querer voltar para lá e reviver tudo isto de novo! E por que não, né!? Abraço! o/
Airechu
Navegador da nave Interlúdio, navegando pelo Multiverso X
http://www.multiversox.com.br
Valeu Airechu! Demorei um pouco pra responder seu comentário, mas fico feliz saber que você vai acompanhar as resenhas. Admiro profundamente o trabalho do Professor Tolkien, e falar um pouco sobre suas obras era um projeto antigo. Mais uma vez obrigado pelo comentário, te aguardo na resenha de "O Hobbit".
Excluir